Ano novo - Psicologia explica significado de cores de roupas para a virada do ano
Psicologia Gestalt ajuda a explicar significado e interpretações das cores
"Com que roupa eu vou?" A pergunta que os paraenses se fazem na véspera do ano novo não envolve apenas a decisão sobre o modelo, mas também e principalmente sobre qual a cor com a qual se vai passar o réveillon. Muitos acreditam que a cor da roupa do ano novo tem significado e atrai certas energias para os demais 364 dias do ano. Branco, vermelho, amarelo, azul, verde e - porque não? - preto. O simbolismo das cores é uma das áreas de estudo da psicologia Gestalt.
De acordo com Adelma Pimentel, da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), os teóricos da área estudaram o sistema nervoso e elaboraram leis da Gestalt para compreender o significado atribuído aos elementos e cores. Porém, cada interpretação varia entre as diversas culturas e no decorrer do tempo, em um processo contínuo de reelaboração pelos indivíduos. "Por meio da linguagem, os símbolos disseminam os valores, a identidade e misturam-se com a vida social", explica a pesquisadora.
Vermelho, azul ou amarelo? O vermelho, famoso no natal devido as roupas do Papai Noel, é sinônimo de sorte na China, porém está atrelado a ideia de prostituição em lugares como os Estados Unidos e a cidade de Curitiba, onde se evita usar esse tom na virada do ano. "O vermelho é uma cor de polissignificações e representa a tentação, por isso a publicidade se apropria desta significação para usá-la em várias embalagens e produtos", conta Adelma Pimentel.
A cor muito disponível no Oriente graças a grande disponibilidade de pigmentos avermelhados era de uso limitado no Ocidente, por isso, usar roupas vermelhas era um privilégio restrito a classe nobre. "No Brasil, as proliferação de árvores de pau-brasil - espécie usada para produção de tinturas e corantes avermelhados - permitiu a propagação do uso desta cor pelas diversas camadas sociais", explica.
A psicóloga da UFPA relembra ainda que o uso do amarelo no fim de ano está relacionado a ideia de obtenção de sucesso material por ser a cor do ouro, metal de grande valor comercial há vários séculos. Já o azul está ligado a ideia de espiritualidade e sabedoria para as pessoas que vivem no Ocidente. Enquanto em países como a China também está relacionado a noção de imortalidade. O azul é considerado ainda uma cor sagrada para os Judeus e está na bandeira de Israel.
O tradicional branco possuiu também vários significados. Na maioria das culturas ocidentais e orientais ele representa pureza e santidade, por isso é usado em casamentos e bodas. Porém, em algumas culturas orientais o branco possui o significado de luto.
De acordo com a antropóloga da UFPA, Marilu Campelo, o uso desta cor branca no ano novo, no Brasil, está ligado a influência africada. A pesquisadora afirma que usar roupas brancas na virada do ano é uma tradição proveniente da prática umbandista e teria iniciado com algumas pessoas que faziam oferendas nas praias cariocas e santistas para Iemanjá, uma das principais entidades da umbanda.
Em contrapartida a cor preta, que representa elegância e sofisticação, usada frequentemente em eventos sociais durante o ano, é recusada pela grande maioria da população no réveillon, pois se acredita que ela carrega energias negativas e é a cor da morte e do luto. "Ninguém deve entrar o ano vestido de preto para não ter augúrios negativos. É um presságio arquetípico que paira no inconsciente coletivo e poucos se atrevem a rompê-lo", diz Adelma Pimentel.
Teoria no dia-a-dia: De acordo com a Psicologia Gestalt o significado dos símbolos está baseado nas seguintes leis da Gestalt: unidade, segregação, unificação, fechamento, continuidade, proximidade e pregnância da forma. "
Essas leis estão presentes no dia a dia e são usadas na hora de escolher a roupa de ano novo", garante Adelma Pimentel. Ao ir até uma loja e escolher uma peça específica dentre as ofertas disponíveis, o consumidor identifica a roupa que lhe atraí e a tira do local para "ver melhor", ou seja, separa uma unidade para alcançar um campo visual ordenado, fazendo assim uma segregação. O mesmo pode se repetir para uma segunda peça.
"Em seguida, ele percebe que uma espécie de tensão vai se dissipando pelo corpo, quanto unifica as peças escolhidas, ou seja, selecionadas permitindo agrupar a ação para fechamento e continuidade, já que o objeto desejado foi localizado. Feita a compra, ele irá para casa, vestirá a roupa e aproveitará a reunião entre familiares e amigos. Nela, vai encontrar pares com quem estabelecerá proximidade. Ficará junto deles por motivos de semelhança, que vão além da roupa. Em síntese, o agrupamento foi realizado visando alcançar a pregnância da forma, ou o equilíbrio, que é a lei básica do bem-estar do organismo, segundo a Gestalt", revela a psicóloga da UFPA.
Menos consumo, mais significado - Adelma Pimentel, porém, ressalta que a interpretação das cores também tende a ser incentivada por interesses econômicos durante o fim de ano e que o importante é buscar os valores aos quais as cores são atribuídas como paz, saúde, tranquilidade e solidariedade, sem focar demasiadamente no produto a ser comprado.
“As tonalidades do consumismo são densas, pois velam as possibilidades de escolhas solidarias dos sujeitos. Por isso, as cores da serenidade, tranquilidade, esperança e solidariedade estão nas ações de cuidado realizadas nos 365 dias do ano e não em uma roupa específica”, defende a pesquisadora da UFPA.
Texto: Lorena Saraiva e Glauce Monteiro - Assessoria de Comunicação da UFPA.
Publicado em: 12/12/2012, originalmente no Portal da UFPA.
Unidade: Faculdade e Programa de Pós-graduação em Psicologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
Status: Pesquisadoras Adelma Pimentel e Marilu Campelo indisponíveis para entrevistas.
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